Você sabia que VCs Europeus estão perdendo espaço na corrida da IA? Neste artigo, vamos explorar como a aversão ao risco pode estar prejudicando o potencial inovador da Europa.
Investidores Europeus Precisam Abraçar o Risco na Era da IA
A Europa está em um momento crucial na corrida pela Inteligência Artificial. Segundo Alex Menn, parceiro da Begin Capital, uma firma de VC de Londres, a aversão ao risco dos investidores europeus pode estar freando o avanço da IA no continente. É uma questão de urgência, ou a Europa pode ficar para trás.
A situação atual do investimento em IA na Europa
Quando olhamos para o cenário global de capital de risco, a Europa tem uma participação pequena. Apenas 5% do capital de risco mundial é levantado na União Europeia, conforme dados da Comissão Europeia. Em contraste, os Estados Unidos atraem mais da metade desse capital, e a China fica com 40%.
Curiosamente, a Europa não carece de dinheiro. As famílias europeias economizam cerca de €1.4 trilhão por ano, quase o dobro do que se economiza nos EUA. No entanto, muito pouco desse valor chega às startups. Mesmo com incentivos fiscais, como o EIS no Reino Unido para investidores anjo, o dinheiro não flui para as empresas inovadoras.
Os fundos de capital de risco europeus são conhecidos pela lentidão e cautela. Eles levam semanas para fazer a devida diligência e hesitam quando as avaliações ultrapassam os US$10-15 milhões. Embora a regulamentação seja citada como um obstáculo, fundos americanos que investem em startups europeias operam sob as mesmas regras e continuam a investir livremente. O problema, então, não é a lei, mas a forma como os investidores a interpretam, optando pela conservação em vez da ação decisiva.
Por que os VCs europeus são avessos ao risco?
Historicamente, os investidores europeus evitam riscos. Bancos, seguradoras e fundos de pensão dominam o mercado, priorizando a preservação de capital. Na Alemanha, a mentalidade “Mittelstand” — focada em negócios estáveis e de longo prazo — leva empresas familiares a buscar estabilidade geracional. Essa abordagem conservadora, embora construa resiliência, também molda os mercados de capitais. Isso ajuda a explicar por que o investimento líquido no país caiu 6,3% entre 2019 e 2024.
A indústria de venture capital chegou à Europa mais tarde que nos EUA. Quando chegou, os fundos do continente investiram em e-commerce, fintech e entrega de alimentos. No setor de deeptech, a maioria dos VCs europeus não tinha a expertise ou a coragem para investir em inovações disruptivas. Por isso, antes da era da IA, as empresas mais valiosas eram nomes como Revolut, Klarna, Delivery Hero, Spotify, Farfetch, Adyen e N26. Todas são empresas fortes, mas com um modelo de negócio mais direto, onde o ajuste produto-mercado era evidente desde o início.
A IA, por outro lado, exige altos custos iniciais, especialmente em energia, e investidores dispostos a aceitar incertezas. Muitos fundos europeus não estão preparados para isso. Eles podem fazer um pequeno investimento inicial, mas frequentemente se afastam nas rodadas seguintes. Sem a convicção técnica para ver como a pesquisa inicial se traduzirá em mercados futuros, eles veem a IA como mais arriscada do que realmente é, e recuam.
O impacto da lentidão nos investimentos
A velocidade é outro grande obstáculo. Os negócios de venture capital na Europa muitas vezes se arrastam em um ritmo burocrático. Alex Menn, da Begin Capital, relata ter visto um fundo levar 40 dias para concluir a diligência de uma startup B2B de um ano com poucas transações mensais. No Vale do Silício, a mesma rodada teria sido fechada em menos de uma semana.
Essa lentidão também tem raízes culturais. Muitos escritórios fecham em agosto, e novamente durante as férias de inverno e nos fins de semana. Em um mercado global competitivo, essas pausas fazem diferença. A Europa está se excluindo das fases de crescimento, tornando-se um mercado de “alimentação”, onde ideias promissoras se transformam em empresas americanas.
Os números confirmam isso. No segundo trimestre de 2025, apenas US$5,7 bilhões foram investidos em startups europeias em estágio de crescimento, em 75 negócios. Isso representa cerca de 10% do financiamento global de venture capital em estágio avançado — a menor participação em qualquer estágio. Embora as mega-rodadas tenham aumentado ligeiramente no ano passado, ainda estão bem abaixo dos picos de 2021.
Casos de startups europeias que falharam
Existem vários exemplos de startups europeias promissoras que enfrentaram dificuldades devido à falta de capital de risco arrojado:
- Graphcore (Reino Unido): Considerada uma esperança britânica em hardware de IA, levantou mais de US$600 milhões. No entanto, foi adquirida em 2024 pela SoftBank por um valor semelhante, bem abaixo de sua avaliação anterior de US$2 bilhões.
- Navya (França): Pioneira em ônibus autônomos, entrou em processo de recuperação judicial em 2023 após não conseguir financiamento de acompanhamento.
- Uniti (Suécia): Uma aposta ousada em veículos elétricos para mobilidade urbana, faliu quando o capital secou.
O que os VCs europeus precisam mudar?
Para mudar esse cenário, os VCs europeus precisam agir menos como guardiões de private equity e mais como investidores anjo. Embora o prêmio de risco associado aos negócios de IA possa ter diminuído, assumir riscos é mais produtivo do que ficar com o capital parado. Os fundadores de IA buscam convicção, flexibilidade e cheques que cheguem em dias, não em meses.
Eles querem fundos que entendam que múltiplas apostas pequenas e ousadas superam um único negócio “perfeito” e lento que se arrasta indefinidamente. Fundos menores e de médio porte têm uma vantagem aqui. Livres de mandatos institucionais, eles podem estruturar negócios de forma criativa — SAFEs, conversíveis, secundários, e até híbridos de capital e dívida. O que importa é a disposição de ser ágil e aproveitar oportunidades promissoras.
Como mudar a mentalidade dos investidores europeus?
A cena de IA da Europa tem talento, base de pesquisa e até dinheiro — mesmo que atualmente esteja mal alocado. O que falta é urgência. Enquanto seu ecossistema de capital de risco se apegar à cautela, as melhores startups de IA continuarão aceitando cheques estrangeiros, e com eles, o talento e a alavancagem que vêm com a escala.
A escolha é simples. Ou os investidores da Europa aprendem a agir na velocidade das startups, ou o continente permanecerá um laboratório para outros colherem os frutos. A Europa pode construir a próxima geração de empresas globais, mas apenas se seu capital se livrar do instinto de hesitar quando mais importa. A corrida da IA não espera, e a Europa também não deveria. Este artigo foi publicado em 19 de setembro de 2025, e a mensagem de Alex Menn, parceiro da Begin Capital, um fundo de US$120 milhões, continua relevante.
Givanildo Albuquerque