Você já parou para pensar na imortalidade digital? Essa nova tendência está mudando a forma como nos relacionamos com marcas e influenciadores, mesmo após a morte. Vamos explorar juntos como isso pode impactar o futuro do marketing!
O Que Empreendedores Precisam Saber Sobre a Imortalidade Digital
A ideia de que a vida de uma pessoa pode continuar a influenciar o mundo mesmo depois de sua partida não é mais ficção científica. Graças à Inteligência Artificial (IA) e à Realidade Virtual (RV), estamos entrando em uma era onde avatares, clones de voz e hologramas de pessoas falecidas podem continuar moldando decisões de compra e o marketing. Não se trata de vender para os mortos, mas sim de vender através deles, usando seus legados digitais como ferramentas poderosas de influência.
Da “Grief Tech” à “Growth Tech”: Uma Nova Fronteira
No início, a tecnologia focada em preservar a memória de entes queridos era chamada de “grief tech” — uma forma de oferecer conforto e manter a conexão. Empresas já estão criando avatares interativos de pais, cônjuges e líderes de pensamento, permitindo que famílias continuem a “conversar” com eles. Um pioneiro nesse campo é Chris Brickler, que fundou a Mynd Immersive, focada em conectar idosos com suas famílias através da RV. Sua mais recente empreitada, a Eternalize, vai além, criando “legados vivos” interativos de líderes e matriarcas/patriarcas familiares.
Um exemplo notável do trabalho da Eternalize foi o documentário _The Heart of Dialogue_, lançado este ano. Ele apresentou avatares interativos, movidos por IA, dos renomados especialistas em relacionamentos Harville Hendrix e Helen LaKelly Hunt. O filme e a experiência digital complementar permitem que o público aprenda com Hendrix e Hunt como se estivesse conversando diretamente com eles.
O que começa como uma tecnologia de conforto pode facilmente se transformar em um canal de influência. Se o avatar de uma avó pode contar histórias para seus netos, ele também pode reforçar hábitos, gostos e até a lealdade a marcas. Se a voz de uma celebridade pode ser licenciada para novos comerciais após sua morte, a IA permite que essa pessoa continue endossando produtos indefinidamente. Em outras palavras, a “grief tech” está evoluindo para “growth tech”.
Legados Digitais Como Influenciadores Eternos
Já estamos acostumados com personagens digitais nos vendendo coisas — pense em mascotes de desenhos animados, porta-vozes gerados por computador ou influenciadores criados por IA no Instagram. O próximo passo é a “influência imortalizada”.
- Um ícone do esporte pode motivar seu treino através de um headset de RV décadas após sua morte.
- Uma lenda da música pode promover uma nova turnê, totalmente impulsionada por hologramas.
- O avatar de um fundador pode aparecer em vídeos de integração da empresa, reforçando os valores da marca por gerações.
- A Eternalize está criando arquivos interativos de grandes professores e pensadores, garantindo que seu impacto continue muito depois de sua partida.
Essas “vozes do passado” podem ser tão persuasivas quanto qualquer influenciador vivo, talvez até mais, pois carregam consigo nostalgia, confiança e uma sensação de permanência.
Além do Valor Vitalício: O Conceito de “Valor Eterno”
Profissionais de marketing são obcecados pelo LTV (Lifetime Value), o valor vitalício do cliente. Mas o que acontece quando o “tempo de vida” não termina mais com a morte? As personas digitais podem estender a influência indefinidamente, criando o que podemos chamar de “valor eterno”.
Pense nisso: uma família continua interagindo com uma versão de IA de um ente querido. Uma base de fãs continua seguindo o “gêmeo digital” de uma celebridade. Uma comunidade continua aprendendo com o avatar de um líder de pensamento. Enquanto essas interações acontecem, as marcas têm a oportunidade de permanecer na conversa.
Isso não é mais uma hipótese. James Earl Jones licenciou sua voz para ser clonada para futuras aparições de Darth Vader. Tupac já “se apresentou” via holograma. O show de hologramas de Whitney Houston fez turnês globais. E agora, com a Eternalize, líderes de pensamento como Hendrix e Hunt continuam seus ensinamentos de forma interativa, demonstrando a viabilidade comercial e cultural dos legados digitais.
O Campo Minado Ético da Imortalidade Digital
É claro que, só porque é possível, não significa que seja simples. Há um terreno ético complexo a ser navegado:
- Consentimento: A pessoa realmente queria que sua imagem ou voz fosse usada postumamente?
- Autenticidade: Se um avatar promove um produto que a pessoa real nunca tocou, isso é desonesto?
- Exploração: Em que ponto honrar um legado se transforma em lucrar com o luto?
Se for tratada de forma descuidada, a imortalidade digital pode gerar escândalos. Mas, se for abordada com transparência e respeito, ela pode preservar legados de uma forma que adiciona significado, em vez de subtraí-lo.
Como Empreendedores Podem se Preparar para Essa Nova Era
Para os empreendedores que desejam explorar este novo e fascinante mercado, algumas lições são cruciais:
- Observe os pioneiros: As indústrias de entretenimento e esportes estão liderando o caminho. Elas definirão o que o público aceita.
- Antecipe a regulamentação: Os direitos sobre a imagem e voz digital ainda estão sendo definidos. Empreendedores que agirem de forma justa agora terão uma vantagem no futuro.
- Pense em legado, não em truque: A Eternalize mostra como os legados podem ser usados para educação, herança e continuidade, não apenas para vendas.
- Prepare-se para a reação: Como acontece com toda ideia disruptiva — mídias sociais, marketing de influência, arte com IA — a opinião pública oscilará. Empresas que forem ponderadas e cautelosas sobreviverão ao ciclo de hype.
Por Que a Imortalidade Digital Importa para o Futuro do Marketing
À primeira vista, o negócio da imortalidade digital pode parecer ficção científica. Mas pense na rapidez com que o marketing de influência passou de algo marginal para uma indústria bilionária. Ou como a ideia de um mascote de marca evoluiu de animais falantes para humanos gerados por IA. O que parece estranho hoje pode se tornar normal amanhã.
No fundo, isso não é sobre tecnologia; é sobre emoção. As pessoas não querem se desapegar de vozes em que confiam e amam. Se a tecnologia permitir que essas vozes continuem moldando decisões, as marcas, inevitavelmente, as seguirão.
Para os empreendedores, a ideia mais ousada é também a mais brilhante: não pense no marketing como algo limitado aos vivos. Pense nele como a gestão de legados. Em um mundo onde os “eus” digitais sobrevivem aos biológicos, a influência não morre. Seus futuros clientes ainda estarão vivos, mas seus influenciadores mais confiáveis talvez não.
Givanildo Albuquerque